sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A musa e o troglodita

Dia desses estava indo trabalhar, de metrô, para ser mais exato. Com meu pai. Quantas vezes não fomos para nossos empregos com nossos progenitores? Pois bem, lá estávamos, ele sentado e dormindo, eu, de pé, no corredor, quando ela entrou.
Que beleza, que elegância, que porte! Altiva, carismática, bonita (para não dizer bela). Tinha cabelos longos, lisos e, como seus olhos, pretos. Vestido azul, de linho, meia preta, de seda, e usava sapatilhas azul. O mesmo azul do vestido, e ambos da cor do oceano, quando limpo. Boca em forma de coração, nariz adunco, ancas largas, busto mediano, 1,60 de altura e os olhos do Sartre. Parada na porta.
Próxima estação, Vila Matilde, um grupo de pessoas, civilizadamente como uma manada de elefantes, entrou. Chamemos atenção a um indivíduo, um gorila, um troglodita, em especial. Ele tomava a dianteira do grupo, como um líder, e empurrou minha Monalisa.
Direi, de forma sucinta, o que se procedeu. Ele a empurrou, por pouco ela não caiu. No ardor de sua raiva, a moça vociferou impropérios graciosos a senhora mãe do troglodita. Muito eloquente, ele urrava obscenidades, enquanto ela triplicava, com argumentos, questões sobre a sexualidade dele, a profissão da mãe e a origem da nobre família. Ela parecia o Fernando Pessoa das palavras chulas. O troglodita, urrava e exprobrava coisas (ou palavras, não sei) ininteligíveis.
Chegamos à Sé, todos nós descemos, ela voltou para o comboio que seguia em direção à Barra Funda, ele subiu as escadas e eu segui meu caminho até a Paulista. No fim, não sei quem era melhor: o troglodita líder da manada de elefantes, a poetisa dos xingamentos ou eu, que prestei atenção a tudo e não vi que meu pai tinha saído algumas estações antes.