Era uma vez um menino que queria
ser marinheiro. Chamava-se Jorge, tinha 13 anos, cabelo e olhos pretos e tez
morena. Um típico caiçara. Morava numa cidade portuária que era reconhecida mundialmente,
segundo seu pai.
Jorge
passava a maior parte de seu tempo no porto, junto de marujos, capitães,
piratas e marinheiros. Sempre sonhou ser capitão, todavia sabia era necessário
adentrar numa tripulação como marinheiro. Seu maior empecilho era Nathanael, um
capitão de grande estima na cidade e arquipélagos adjacentes.
O guri, um dia, sonhou que
encontrava um barco e uma vara que o ajudariam a entrar na tripulação.
- Com
licença, Capitão Nathanael, eu gostaria de me candidatar a ser o novo marinheiro
da sua tripulação. Eu sei...
-Não, você ainda é menino,
precisa crescer, aprender outras coisas além de pescar e limpar peixe.
- Mas eu sou capaz de fazer nós
e...
- Não, já disse que não, cresça
primeiro! A menos que...
- Que o que Capitão?
- Que me traga o peixe mais raro
ou o maior peixe jamais visto na região.
O menino saiu apressado e
aturdido, devaneando pelo porto. Tropeçou e caiu de bruços num barco.
Reconheceu-o imediatamente! Era o barco do sonho.
- Onde está a vara? – pensou
Olhou em volta e viu um traço
brilhante recostado num muro. Foi até lá verificar... Era a vara!
- Maravilha! Agora tornar-me-ei
um marujo e, depois, capitão! Viva! Viva! Viva! Três vezes viva! – gritou a
todos pulmões.
Pôs a vara dentro do barco e
arrastou-a até um local que considerasse seguro. Foi para casa, jantou e fez os
preparativos para sua pesca. Pretendia sair antes da aurora e retornar, no
máximo, após o crepúsculo.
Acordou às cinco horas, levou os
mantimentos até o local onde estava o barco. Pô-lo na água, colocou as
provisões e adentrou. Saiu em direção oeste. Mal sabia o erro que cometia, ao
esquecer a bússola.
- É hoje que mostro ao Capitão N.
do que sou capaz! HAHAHA. – disse em alto e bom som.
Zarpou. Estava em mar aberto. A
cidade e as ilhas perdiam-se pelo horizonte. Nenhum barco. Nenhum sinal de
vida. Era ele, as gaivotas e toda a imensidão infinita do mar.
Lançou a vara e esperou. Trouxe
linha, iscas e anzóis a mais. Mas esqueceu a bússola. A linha era fisgada,
contudo Jorge sabia que eram peixes pequenos. Não havia peixes raros pequenos
naquela região. Conhecia a fauna marítima regional como conhecia a palma de sua
mão.
O dia passou, a pesca não teve
valor e o menino não sabia como voltar. Navegou a esmo por algumas horas, até
ancorar numa ilha. Abrigou-se numa caverna, cobriu-se com folhas de bananeiras
e chorou. Chorou a noite inteira.
No dia seguinte foi explorar a
ilha. Encontrou várias frutas e pequenos animais que poderiam servir-lhe de
alimento. Nesta noite teve um sonho, em que uma mulher chamada Beatriz, dizia
que ele ficaria na ilha por algum tempo, que previra tudo antes do sonho da
pesca.
Sete meses depois, o garoto
lançou-se novamente ao mar. Ele havia aprendido a pescar, caçar, fazer
armadilhas, cozinhar, se cuidar com ervas, fazer ataques certeiros em momentos
oportunos, planejar estratégias e outras coisas que ajudam um marinheiro a se
destacar.
Pegou sua vara, mar aberto, não
havia barcos, mas a ilha era visível a olho nu, ainda. Atirou-se ao mar às seis
da manhã. Preparou a isca, jogou a linha ao mar e esperou. Esperou. E esperou
mais um pouco.
Às quinze horas, a linha
se mexeu. O guri, que estava distraído, foi tomado de susto e pegou a vara. A
batalha contra o peixe começou. Ora o peixe arrastava o barco, ora o menino
puxava o peixe à superfície.
Ficou nisso até o raiar da manhã
seguinte. Jorge sentiu que se não puxasse a linha naquele instante, perderia o
peixe. Com esforço, ele conseguiu. Era o peixe mais bonito que já havia visto.
Maravilhado, ouviu a voz de
Beatriz, avisando-o para navegar a sotavento, assim encontraria Nathanael. Ele
o fez. Por volta do meio-dia, avistou o navio do Capitão e gesticulou para que
fosse visto. Alguns minutos mais tarde, era içado ao convés.
Todos perguntaram por onde andou,
que juravam tê-lo por morto. Jorge respondeu às perguntas e pediu para ver o
Capitão N. Nathanael havia previsto a cena, apareceu no deque e pediu para ver
o peixe pescado, o que foi prontamente atendido. Jorge foi admitido como marujo,
admirou-se de seu prodígio e navegou feliz para sempre!