sábado, 9 de março de 2013

O Sonho


- Anda! O barco precisa zarpar. A viagem já foi adiada muito tempo. Despeça dos teus amigos e parentes. O mar nos espera.
- Mas tá nublado...
- Eu sei. Você sabe que não faz sol por aqui, só no nosso destino.
- Tá legal, já vou subir.
Partiram em 10 minutos. Não olharam pra trás. Não tinha pra onde olhar. Só as gaivotas, os peixes, eles e o mar. Em cada porto paravam, conheciam a história, visitavam as casas. Nunca se sentiam bem. Voltavam pro velho barquinho e zarpavam.
Muitas tempestades depois, muitos portos depois. A bussola não funcionava, eles iam para onde o vento e a correnteza os levava. E a vida seguia assim. E eram felizes.
Um dia pararam num local inóspito, resolveram acampar. Muitas árvores, muitas plantas, muitos animais. Grandes e pequenas, largas e finas, multicoloridas. Andaram um dia inteiro, traçando uma volta, caso não encontrassem nada.
Noite. Ela decidiu explorar, sem ele. Manhã. Ele acordou preocupado. Largou tudo e foi atrás dela. Gritou seu nome centenas de vezes, só ouvia o piar dos pássaros, o vento nas folhas caídas e os galhos quebrados. Dias passaram, sem sinal dela. Mas ele prometeu não partir sem ela. Morreria ali, se não a encontrasse.
Construiu uma cabana para se proteger de eventuais predadores, as armas estavam em bom estado, e tinha como afiá-las. Procurava-a dia e noite, incansável, inabalável...
Muitas tempestades depois, ouviu um grito pedindo ajuda. Correu. Era ela, com medo. Ajudou-a.
- Sai! Essa briga é minha. Eu entrei sozinha, eu saio sozinha!
- Mas...
- Mas nada! É minha! Só e somente minha!
- Mas...
- Sai!
Ele viu a luta, por horas, dias, meses. Um clarão, gritos. Desmaios.
Ela acordou. Estava na cama. Sem dor, sem ferimentos. Ele entrava no quarto, com o café para ela. Perguntou-lhe o que acontecera.
- Foi só um sonho.
Terna, o abraçou, beijou e disse-lhe que o amava. Ele, em movimento recíproco, afagou-a, mexeu nos cabelos e disse-lhe:
- Tá tudo bem, foi só um sonho, meu amor...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Apartamento vazio


A janela tá aberta, o sol ilumina meu rosto manchado de lágrimas, minhas olheiras enormes de noites mal dormidas, o café não tem o mesmo gosto, os porta-retratos estão vazios, a música não acalma mais.
É tão estranho acordar sem tê-la por aqui. Sem teu cheiro na roupa amassada jogada no chão. Sem teu sorriso pra observar. Teu cabelo pra tocar ou teu peso no meu colo. Faz falta, e que falta.
Já nem sei quanto tempo faz, se foi há alguns dias ou anos, não importa. Eu me olho no espelho e vejo um rascunho de alguém que já foi humano. Tanto faz, não vai mudar.
Eu assisto a tv quebrada, vejo filmes que nunca foram lançados, ouço o silêncio. Tudo vazio de preenchimento. As horas que tenho algo a fazer são raras, e não fazem sentido. As horas vagas tornam-se tenebrosas. Cadê você? Onde foi que eu errei?
Nossos manequins não me respondem mais. Nossos animais não me conhecem. Os filmes não fazem sentido. Que eu tenho que fazer, meu deus. Meu deus.
Cada dia uma parte de mim morre. Todo dia eu ponho jantar pra dois, acendo as velas, espero você. A porta tá aberta, não precisa bater. É só entrar e falar que veio conversar.
Eu não sei quando vai voltar, e se vai. Você sabe onde me encontrar. A porta tá aberta, é só entrar e falar que veio conversar...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Conto de fadas


Era uma vez um menino que queria ser marinheiro. Chamava-se Jorge, tinha 13 anos, cabelo e olhos pretos e tez morena. Um típico caiçara. Morava numa cidade portuária que era reconhecida mundialmente, segundo seu pai.
                Jorge passava a maior parte de seu tempo no porto, junto de marujos, capitães, piratas e marinheiros. Sempre sonhou ser capitão, todavia sabia era necessário adentrar numa tripulação como marinheiro. Seu maior empecilho era Nathanael, um capitão de grande estima na cidade e arquipélagos adjacentes.
O guri, um dia, sonhou que encontrava um barco e uma vara que o ajudariam a entrar na tripulação.
                - Com licença, Capitão Nathanael, eu gostaria de me candidatar a ser o novo marinheiro da sua tripulação. Eu sei...
-Não, você ainda é menino, precisa crescer, aprender outras coisas além de pescar e limpar peixe.
- Mas eu sou capaz de fazer nós e...
- Não, já disse que não, cresça primeiro! A menos que...
- Que o que Capitão?
- Que me traga o peixe mais raro ou o maior peixe jamais visto na região.
O menino saiu apressado e aturdido, devaneando pelo porto. Tropeçou e caiu de bruços num barco. Reconheceu-o imediatamente! Era o barco do sonho.
- Onde está a vara? – pensou
Olhou em volta e viu um traço brilhante recostado num muro. Foi até lá verificar... Era a vara!
- Maravilha! Agora tornar-me-ei um marujo e, depois, capitão! Viva! Viva! Viva! Três vezes viva! – gritou a todos pulmões.
Pôs a vara dentro do barco e arrastou-a até um local que considerasse seguro. Foi para casa, jantou e fez os preparativos para sua pesca. Pretendia sair antes da aurora e retornar, no máximo, após o crepúsculo.
Acordou às cinco horas, levou os mantimentos até o local onde estava o barco. Pô-lo na água, colocou as provisões e adentrou. Saiu em direção oeste. Mal sabia o erro que cometia, ao esquecer a bússola.
- É hoje que mostro ao Capitão N. do que sou capaz! HAHAHA. – disse em alto e bom som.
Zarpou. Estava em mar aberto. A cidade e as ilhas perdiam-se pelo horizonte. Nenhum barco. Nenhum sinal de vida. Era ele, as gaivotas e toda a imensidão infinita do mar.
Lançou a vara e esperou. Trouxe linha, iscas e anzóis a mais. Mas esqueceu a bússola. A linha era fisgada, contudo Jorge sabia que eram peixes pequenos. Não havia peixes raros pequenos naquela região. Conhecia a fauna marítima regional como conhecia a palma de sua mão.
O dia passou, a pesca não teve valor e o menino não sabia como voltar. Navegou a esmo por algumas horas, até ancorar numa ilha. Abrigou-se numa caverna, cobriu-se com folhas de bananeiras e chorou. Chorou a noite inteira.
No dia seguinte foi explorar a ilha. Encontrou várias frutas e pequenos animais que poderiam servir-lhe de alimento. Nesta noite teve um sonho, em que uma mulher chamada Beatriz, dizia que ele ficaria na ilha por algum tempo, que previra tudo antes do sonho da pesca.
Sete meses depois, o garoto lançou-se novamente ao mar. Ele havia aprendido a pescar, caçar, fazer armadilhas, cozinhar, se cuidar com ervas, fazer ataques certeiros em momentos oportunos, planejar estratégias e outras coisas que ajudam um marinheiro a se destacar.
Pegou sua vara, mar aberto, não havia barcos, mas a ilha era visível a olho nu, ainda. Atirou-se ao mar às seis da manhã. Preparou a isca, jogou a linha ao mar e esperou. Esperou. E esperou mais um pouco.
                Às quinze horas, a linha se mexeu. O guri, que estava distraído, foi tomado de susto e pegou a vara. A batalha contra o peixe começou. Ora o peixe arrastava o barco, ora o menino puxava o peixe à superfície.
Ficou nisso até o raiar da manhã seguinte. Jorge sentiu que se não puxasse a linha naquele instante, perderia o peixe. Com esforço, ele conseguiu. Era o peixe mais bonito que já havia visto.
Maravilhado, ouviu a voz de Beatriz, avisando-o para navegar a sotavento, assim encontraria Nathanael. Ele o fez. Por volta do meio-dia, avistou o navio do Capitão e gesticulou para que fosse visto. Alguns minutos mais tarde, era içado ao convés.
Todos perguntaram por onde andou, que juravam tê-lo por morto. Jorge respondeu às perguntas e pediu para ver o Capitão N. Nathanael havia previsto a cena, apareceu no deque e pediu para ver o peixe pescado, o que foi prontamente atendido. Jorge foi admitido como marujo, admirou-se de seu prodígio e navegou feliz para sempre!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Pra ela.

E foi do nada. Assim, de repente. Você falando que ia casar comigo. Achava graça. Não tem idade o suficiente pra falar isso e ser sério. E foi assim. Do nada. Eu continuava a brincadeira (eu achava que era). Cossenti no nosso casamento (de mentira). Ilusão. Ai nascia nossa filha. Nós, bem sucedidos nos nossos empregos. E continuou. Como uma brincadeira.
E ficou sério. E eu nem sei quando. Acho que você também não. E ai surgiram os problemas. Os nossos problemas. Você falava dos teus pra mim. Eu falava dos meus pra ti. E aprofundou. Ali deixava de ser brincadeira. Eramos duas pessoas que queriam se tornar uma.
Pequenas conversas intercaladas com outras. Nos pequenos atos. De desejar um sono bom ou uma boa viagem ao trabalho ou à escola. O amor (re)nasce todos os dias. Renasce quando começa o dia. Morre quando acaba. E de madrugada, ele se refaz, pra nascer mais bonito. Dia pós dia. É assim. O amor cresce nas pequenas conversas. De nós dois. Sobre nós dois. O que somos. E o que seremos. Só assim.
Tão estranho. Os dois que não sabem se relacionar. Você até sabe. Menos extremista com as pessoas do que eu. Me ensinando a viver em comunhão com os outros. Obrigado.
Te amo, caipira S2