- Anda! O barco precisa zarpar. A
viagem já foi adiada muito tempo. Despeça dos teus amigos e parentes. O mar nos
espera.
- Mas tá nublado...
- Eu sei. Você sabe que não faz
sol por aqui, só no nosso destino.
- Tá legal, já vou subir.
Partiram em 10 minutos. Não
olharam pra trás. Não tinha pra onde olhar. Só as gaivotas, os peixes, eles e o
mar. Em cada porto paravam, conheciam a história, visitavam as casas. Nunca se
sentiam bem. Voltavam pro velho barquinho e zarpavam.
Muitas tempestades depois, muitos
portos depois. A bussola não funcionava, eles iam para onde o vento e a
correnteza os levava. E a vida seguia assim. E eram felizes.
Um dia pararam num local
inóspito, resolveram acampar. Muitas árvores, muitas plantas, muitos animais. Grandes
e pequenas, largas e finas, multicoloridas. Andaram um dia inteiro, traçando
uma volta, caso não encontrassem nada.
Noite. Ela decidiu explorar, sem
ele. Manhã. Ele acordou preocupado. Largou tudo e foi atrás dela. Gritou seu
nome centenas de vezes, só ouvia o piar dos pássaros, o vento nas folhas caídas
e os galhos quebrados. Dias passaram, sem sinal dela. Mas ele prometeu não
partir sem ela. Morreria ali, se não a encontrasse.
Construiu uma cabana para se
proteger de eventuais predadores, as armas estavam em bom estado, e tinha como
afiá-las. Procurava-a dia e noite, incansável, inabalável...
Muitas tempestades depois, ouviu
um grito pedindo ajuda. Correu. Era ela, com medo. Ajudou-a.
- Sai! Essa briga é minha. Eu
entrei sozinha, eu saio sozinha!
- Mas...
- Mas nada! É minha! Só e somente
minha!
- Mas...
- Sai!
Ele viu a luta, por horas, dias,
meses. Um clarão, gritos. Desmaios.
Ela acordou. Estava na cama. Sem
dor, sem ferimentos. Ele entrava no quarto, com o café para ela. Perguntou-lhe
o que acontecera.
- Foi só um sonho.
Terna, o abraçou, beijou e
disse-lhe que o amava. Ele, em movimento recíproco, afagou-a, mexeu nos cabelos
e disse-lhe:
- Tá tudo bem, foi só um sonho,
meu amor...