sexta-feira, 31 de agosto de 2012
A musa e o troglodita
domingo, 24 de junho de 2012
Conversa de rua
- Você está bem?
- Sim, e você?
- To bem também. E vejo que vai melhor sem mim.
Sei que nem lembra mais de mim, ao menos, aparenta isso. Eu, eu penso em você todo dia. E te desejo o bem. Vejo que está dando certo.
- Foi bom te encontrar, quanto tempo que não nos víamos?
- Muito tempo mesmo! Uns 6 meses... eu acho.
Você sabe onde eu moro, só aparecer, sempre faço mesa pra dois, nunca sei quando vai aparecer (se vai)! Podíamos tirar outra foto juntos, que acha?
- Vamos marcar de sair, botar a conversa em dia, que cê acha?
- Pode ser, mas você me conhece, não pode ser um lugar muito barulhento.
- Tudo bem, eu conheço um barzinho legal, umas 2 quadras daqui.
- Ok, você tem meu telefone, é o mesmo, só ligar.
- Qual é mesmo? Eu joguei fora, desculpa.
- Sem problema, é 4798-2197
- Tá anotado.
- Se quiser ir lá em casa, eu faço janta pra gente, como eu fazia.
- A gente combina direito
Você continua tão linda. Porra, você continua tão linda!
- Desculpa, mas estou atrasada, foi ótimo encontrar você!
- Devo dizer o mesmo, tchau, tenha um bom dia.
Teus olhos ainda me encantam, tua fala me agrada, ah, eu te amo. Você sabe, por que teve de ir? Se eu soubesse a falta que me faria, era melhor eu nem tê-la conhecido.
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Ao amor, um brinde!
Feliz dia dos (e)namorados. E que essa data extenda-se para noivos, cônjuges, parceiros sexuais, e pessoas que vivem junto.
terça-feira, 29 de maio de 2012
A um velho amigo
Ah amigo, só tu sabes quantas histórias passamos juntos, tantos amores, tantos pensamentos, tantas estórias. Os bares viravam tavernas, os bairros tornavam-se vilas e os prédio, árvores. As pessoas eram apenas viandantes.
Ah amigo, se tu soubesses a falta que me causa, precisava respirar teus ares novamente. Não sinta-se velho, apesar de tua aparência, não o trocaria pelos outros, tu, és, ainda imponente perante outrem. Teu vermelho mostra toda sua bravura, que me leva a casa. E bom, tornou-se mais constante na minha nos primórdios de tempos atuais, porém, por um contratempo, findou-se nossos encontros, mas, prometo-lhe, que sempre que possível, irei ao teu encontro.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
Sem título
Os homens bons amam quando estão apaixonados, choram quando têm de chorar, (sor)riem quando estão felizes e sofrem quando algo ruim acontece.
E os homens como eu, sofrem quando estão apaixonados, porque sabem que decepcionarão o ser amado; sofrem quando têm de chorar, pois lágrimas não caem de seus olhos; sofrem quando estão felizes, pelo fato de ser um (sor)riso falso e sofrem quando algo ruim acomete-lhes, porque isso é o que acontece a todos.
sábado, 5 de maio de 2012
Ph.D
PhD em decepção. Decepcionava a tudo e a todos com maestria. O fazia como arte, de tão natural, parecia um dom divino.
- Diga-me um defeito teu.
- Sou bom em decepcionar. Melhor. Sou ótimo nessa arte!
Decepcionava tanto que a própria Decepção decepcionou-se com ele.
terça-feira, 1 de maio de 2012
Diário de bordo, dia 8.619
Ah Lua, tu tens aos navegantes perdidos, aos marujos nos portos, as moças de boa família, e as estrelas, que dançam e cantam, enquanto tu refletes o rosto do ser amado de cada um. Ah Lua, tão minha, tão minha. Minha Beatriz. Guia-me até o porto que ela reside, para que não tenha mais que velejar, e tornar esse mar infindável, infinito. Eu queria morrer, porém, não a teria nem a ti, Lua. Essa é uma das duas coisas ruins de morrer. A outra, só morremos uma vez. Ao morrer, não há dor, problemas, e outras maleficidades. Não há nada. Ah Lua, conta pra mim, por favor, onde minha Beatriz está.
terça-feira, 24 de abril de 2012
Domingo, família e uma vida infeliz
Português, matemática, ética, jurisprudência bancária. Pergunta 1, 2, 15, vai respondendo, uma a uma. Ela aparece em seus raciocínios lógicos. "Sai daí caralho!" - ele pensa. Ela sai, e o leva consigo. Ela, eu, uma imensidão azul escuro, a lua iluminando-os, as estrelas irradiando amores, e os corpos interligados pelas mãos dadas. Ela conta estrelas enquanto ele conta que a ama.
Pergunta 41, selic, cetip, Banco do Brasil, a galega aparece novamente, dançando, cantando e recitando os poemas que ele gosta. A cena mais linda. E nunca vai acontecer.
"Ele vai passar, tenho certeza" - diz o pai. O orgulho da família, o sonho da família, passar no concurso público. Emprego estável, salário bom, convênio médio que todos desejam. Fica 5 anos e pede demissão.
- Como foi o trabalho hoje?
- Foi ótimo!
- Foi promovido filho? Conseguiu aquele curso que tanto queria? O que aconteceu?
- Melhor que tudo isso. Pedi demissão!
- Você o que?
- Pedi demissão.
- Você é imbecil? É retardado? Nunca mais terá uma chance como essa! Vai trabalhar com o que agora? Imbecil!
- Vou fazer o que sempre quis. Não gosto de trabalhar de terno, cabelo curto e barba aparada. Essa coisa certinha não combina comigo. Eu gosto é do estrago, da incerteza. Eu vou viver meu sonho, não o seu.
Saiu, se fodeu e viveu a vida que sempre quis. Sem ela, que ainda corria por seus pensamentos.
sexta-feira, 30 de março de 2012
Vesânia Sentimental (sketch)
A multidão é um monstro sem rosto e coração. Você é parte dela. Você tem medo dela. Você quer amor, acha ódio. A gente se odeia e faz sentido viver assim.
Procura novos amigos, só acha os velhos. Jack D., Johnnie W., Stella A., Jack M. e o Velho Barreiro. Procura amor, só tem amor próprio. Amor próprio agora é suicídio. Suicídio não é opção. Mas quem se importa, ninguém nunca se importou.
Olha as fotos dela nos porta-retratos vazios. Não tinha fotos, pois assim poderia imaginar qualquer momento de sua miserável vida neles. Sabia que não voltaria, ainda assim, punha mesa para dois, mesmo estando sozinho. Quem sabe você não resolve aparecer. A porta está aberta para você, como já deve saber. Eu vejo suas fotos, está tão melhor sem mim que eu fico feliz em te ver assim. De nós dois não restaram ninguém.
Enquanto faço isso, vou te apagando aos poucos, te subtraindo ao nada. Porque eu não sei falar do ser amado, eu só sei fazê-lo divindade. Botei você num pedestal. E só quando não a possuía mais percebi que era imperfeita, assim como eu, e então, percebi que era humana, em todos os sentidos da palavra.
Via seu rosto na multidão, ouvia sua voz quando sussurrava. Era amor, e não era platônico, como os outros. Invadia cada lugar que eu ia. Sentia seu cheiro na minha roupa, e era só o amaciante, o perfume. Estava no bar, no taxi e nas esquinas, durante o dia, durante a noite. Encontrava drogados, bêbados, ladrões, prostitutas, jovens, mendigos e homens falidos. Eu via todos, e você tinha um pouco de cada. É isso que a cidade te oferece. É isso o que você tem a oferecer.
Já amou? Quando digo amar, que não seja seus familiares nem seus amigos ou seu dinheiro. Já sentiu-se só? Pensou em suicídio alguma vez? Ou parou para conversar com seus parentes e amigos sobre esses assuntos?
terça-feira, 27 de março de 2012
Ônibus
sexta-feira, 9 de março de 2012
Amigos
quarta-feira, 7 de março de 2012
Planos de família feliz
- É claro.
- Na minha casa, por favor.
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Números Obsoletos
18h30: Pedro despede-se dos colegas de escritório, desce ao subsolo pela escada. É o único exercício que fazia em seu dia-a-dia. Subia e descia escadas, no trabalho, no edifício onde mora, no shopping center onde almoça. Trabalha no 6º andar do edifício Rochaverá, na Avenida Doutor Chucri Zaidan. Pedro chega ao subsolo, anda até seu velho Impala, de 1968, herdado de seu falecido pai.
18h55: Pedro está na Avenida Ibirapuera, não passou por nenhuma avenida, pois sabia que iria pegar trânsito ao chegar onde estava. Ouviu no rádio que até a Avenida Indianópolis o trânsito fluía bem. Assim que ouviu o que desejava, botou o cd do Bob Dylan, que seu primo trouxera dos Estados Unidos para ele.
19h05: Começa a chover, ironicamente, começa a tocar “A Hard Rain’s A Gonna Fall”. O rapaz está em dúvida se entra na Avenida 23 de Maio ou na Rua Sena Madureira.
19h10: Está próximo à Avenida Lins de Vasconcelos. Cansou do Bob Dylan. “Dylan, não sei como dizer, mas eu vou te trocar pelo Stiff Little Fingers“ disse. Andou mais um pouco e viu uma ambulância, um aglomerado de pessoas, alguns carros de polícia e um motociclista acidentado. “Aumento de 500% nos acidentes de motociclistas, nos últimos 11 anos. Um aumento de 2.285% na taxa de óbitos entre 1996 e 2010, passando de 64 para 1.527, sendo 3 mulheres em 1996 e 139, em 2010, um aumento de, estrondosos, 4.533%” pensou. Que coisa triste, mas são dados. Dados do Ministério da Saúde. “Espero que o coitado não tenha sofrido nada grave. E que achem o culpado pela queda dele. Mas ele bem podia ter caído sozinho, ao fazer uma curva mal feita. Eu mesmo quase bati o carro ali uma vez.”
19h20: Muito próximo à Avenida Coronel Diogo, outra dúvida, não sabia se entrava na Avenida e ia até Avenida Dom Pedro I, depois até Avenida do Estado e entrar na Avenida Celso Garcia, ou seguia pela Lins de Vasconcelos, onde entrará na Rua da Independência, seguiria por ela até a Rua Dona Ana Néri, prosseguia nela para chegar na Avenida Alcântara Machado. Decidiu-se pelo segundo caminho.
20h: Chegou à Avenida tanto desejada. Um trânsito moroso sentido bairro. Havia colocado o cd “The Shape Of Punk To Come” do Refused, o último gravado, um dos seus favoritos da banda, e da vida. Outro acidente. Outro motociclista. Este, próximo a saída para a Rua da Mooca. “As pessoas bem podiam parar de reclamar que motoqueiro não respeita, que são foras-da-lei. Pra mim, fora-da-lei é bandido, estuprador, sequestrador, assassino, não motoqueiro. Tá certo que eles não andam na faixa, como prevê o código penal, mas ninguém fiscaliza isso, tornou-se rotina vê-los nos corredores de carro. E os motoristas de carro, ônibus e caminhão deveriam olhar pelo retrovisor e pelos retrovisores laterais. Se cada um fizesse sua parte, não bebesse, cumprisse o que está no manual do condutor, o trânsito seria funcional. Estabelecesse um limite de velocidade nas vias, pessoas conscientizariam-se dele e não mais teremos placas de velocidade, e o mesmo para rodovias. Tudo seria melhor. Mas o trânsito mata mais que arma de fogo de alguns países que vivem em guerra. Triste realidade. Triste.”
20h30: Nosso herói chega a Avenida Salim Farah Maluf, onde prosseguirá até a Rua Demétrio Ribeiro, que seguidamente muda de nome para Rua Itapeti, onde continua até a Rua Itapura, e de lá, segue até seu apartamento. No máximo, em 20 minutos eu chego. – disse em voz alta.
21h: Chegou em casa há 10 minutos. Subiu para o apartamento 33, foi ver se os filhos estavam dormindo e perguntar da escola para a ex-esposa. Logo subiu para o apartamento 41, o seu. Havia descascado a cebola, o alho e cortado a cenoura. Iria preparar um arroz a grega. Ligou a tv, e pôs no noticiário. Tomou uma dose de tequila, precisava sentir sua garganta queimar.
21h30: Jantar preparado. Arroz a grega, salada e frango ensopado, que a empregada tinha feito para seu almoço. A empregada sempre fazia comida a mais, para que ele jantasse. Ouviu a notícia sobre o acidente da Avenida Lins de Vasconcelos, o rapaz morreu na ambulância. “Coitado, mas é pior para a família. Talvez ele fosse filho único, talvez fosse pai de família, talvez estivesse saindo do trabalho para levar o pai que sofreu um derrame, ai seriam duas tragédias familiares. Quem sabe o que teria acontecido se ele estivesse olhado antes de entrar? Quem sabe um motorista que odeia motociclistas resolveu atropelá-lo só para massagear o ego? As respostas pouco interessam agora, é só mais um número para as estatísticas.” Desligou a tv, botou o prato no micro-ondas e foi dormir.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Crônica da meia-noite.
- Que desejas?
- O de sempre.
Pôs, na frente dele, uma dose de solidão.
- Quer saber, misture uma dose de cada um desses que eu pedir, e dê-me em um copo maior. Ou numa taça, para ser mais poético.
- O que o senhor deseja então?
- Melancolia, angústia, raiva, ódio, traição, falsidade, mágoa, amargura, rancor...
- Dor também?
- Por favor. Acho que já está bom, qualquer coisa, peço novamente.
Levantou-se e foi embora, antes do garçom dizer que tinha que pagar, avisou-o que voltaria mais tarde, para não se preocupar. Saiu, virou à esquerda, um rapaz o puxou para um beco, e assustado, disse-lhe
- Você não deveria ir lá. Eu sei. Eu sei. É perigoso, você vai se matar. Vai se matar, eu sei, eu sei.
- Você vai se machucar. Você vai machucar quem te ama. Você vai morrer, eu sei. Eu sei
Assustado, pensou em voltar ao bar, pensou em seguir seu caminho, pensou em vaguear, por fim, acendeu seu cigarro. Um trago, uma lágrima, uma nota perdida. Outro trago, outro arroto, outro dia de derrota. Mais um trago, mais uma decepção, mais uma noite solitária. Viu um bordel. Decidiu-se adentrar.
- Sai daqui Culpa, ele tá precisando é de Ressentimento, ou seja, eu!
- Fora vocês duas, suas vadias. Eu sou o que ele precisa, meu nome é Felicidade.
- Pensando bem, eu preciso das 3, podemos ir para o quarto?
As três, em coro uníssono, gritaram
- Claro!
- Ainda bem que não encontrei aquele mendigo maldito pelo caminho!
- Que?
- Nada, lembra da mistura que pedi, faça outra, por favor.
Começou a suar frio, sentiu sua consciência pesar, quebrou o copo na mão. Caiu. Sangrou. Ninguém disse nada. A banda tocou a marcha fúnebre. E o mendigo quebrou o silêncio.
- Meu nome? Eu não me lembro.