quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Cena dos últimos meses

Os dias parecem serem sempre os mesmos. As mesmas dores e angústias num loop infinito. As horas parecem não passar. O corpo não descansa. As olheiras denunciam as poucas, quando alguma, hora de sono. Não tem remédio. Não tem cigarro. Não tem bebida. Não tem nada além de medo. O tédio impera num reino extenso que cobre todo o corpo e o espaço onde o corpo está. Às vezes, afeto faz falta. Às vezes, as ilusões traem as percepções, proporcionando algum prazer - efêmero. Às vezes, a chuva. Às vezes, o choro. Mas só em doses homeopáticas.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Reflex(ã)o

O sexo acaba. Ele desaba ao lado dela, e ambos, cansados e extasiados, olham para o teto por 2 ou 3 minutos. Ele levanta, pega o maço, vai para a cozinha e serve-se duma xícara de café. Pergunta se ela deseja algo, prontamente tem a resposta: "traz suco, por favor". Retorna com o copo de suco, a xícara e um cigarro à boca, enquanto procura o isqueiro. Senta-se à beira da cama, e a observa atentamente. Ela, por sua vez, admira-se, nua e com suas vestes em mãos, no espelho. Ela foi tomar banho, ele, ficou deitado. Deitado, ele pensa consigo mesmo sobre o vazio de sua vida, outra transa em busca de completar esse vazio, ainda que por alguns momentos efêmeros, angustia-se. Pensa em seus relacionamentos passados, porque existiram, porque acabaram, como foram levados da graça à ruína. Ela, no banho, reflete sobre sua insignificância, quanto tempo mais aquilo duraria, sobre a brevidade da vida, sobre a necessidade de afirmação por parte de um terceiro para sua autoafirmação. Retorna, deita na cama, fita-o no olho, riem. Por um momento, os dois são eternos e infinitos.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Cinebiografia de memórias

18 de novembro. Aniversário dela. Não sei se devo falar. Não sei o que fazer. Queria dialogar, porém sei que iremos brigar. Não quero me estressar novamente. Queria estar com ela. Queria abraçá-la, beijá-la, estar na companhia daquilo que me faz bem. Procuro um cigarro. Pego um copo e bebida. Nada mais tem efeito. Nem o diazepam. Nem a nortriptilina. Nem o citalopram. Vou deitar. Sua imagem passa e repassa na cabeça como filmes ruins passam na sessão da tarde. Como um filme que eu não quero ver. Como um filme que eu já sei o final. Como um filme que sempre me faz chorar. As horas passam. As memórias ficam mais nítidas. O rosto, mais molhado. A insônia me toma por completo. Penso em morrer. Não vai adiantar. Não vai melhorar. Nada vai melhorar. Durmo. Acordo. Lamento mais um dia em que não dormi pela última vez.